CASA DO SILÊNCIO

xx DISCIPLINA: PROJECTO VI

XX ANO LECTIVO: 2006/2007 - 3º ANO

XX DOCENTE: ARQ. ANTÓNIO CARVALHO

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XX Vivemos uma época de grande azáfama, uma época de movimento e ruído, uma época em que, cada vez mais, a possibilidade de silêncio e recolhimento são um privilégio. Nesse sentido, espaços como aquele a que este trabalho aspira ser, uma Casa do Silêncio, têm uma importância crescente na nossa sociedade.

xx Comecei este trabalho perguntando-me o que é uma casa do silêncio, qual a sua função e o que é que nela se procura. Descobri que, para quem a ela se dirige, o mais importante não é o que nela pode encontrar mas aquilo que pode descobrir em si. Assim, uma das intenções principais foi a de que os vários espaços que cosntituem a Casa do Silêncio se correlacionassem formando um ritual que auxilia-se à descoberta de cada um. Outra intenção foi a de que esses espaços, dado que desempenham funções distintas, fossem fisicamente separados entre si, possibilitando a eliminação de corredores de ligação, espaços em que os indivíduos, mesmo não querendo, teriam que contactar entre si. Esta opção permitiu, também, tirar partido da dimensão do terreno através da criação de três zonas com diferentes níveis de silêncio. A área de maior ruído, a de nível 3, é a zona de chegada, constituída pelo estacionamento e pela administração e fica localizada na zona de menor arvoredo e de maior proximidade com a urbanização vizinha. A de nível 2 é a zona do refeitório, capela, biblioteca e lago e, apesar de também estar próxima da urbanização, encontra-se protegida por um imponente muro de pedra. A área de maior silêncio, a de nível 1, é a zona dos habitáculos individuais. Esta zona é a que fica mais distante de fontes de ruído e, além de também se encontrar protegida pelo muro de pedra da zona 2, é a zona de maior arvoredo.

xxx Como acima referi, uma das ideias base da proposta foi a de que os vários espaços se deveriam articular entre si. Depois de chegar ao terreno e de se dirigir à administração, o indivíduo dirige-se ao seu habitáculo e aí tem início o referido ritual. Este espaço, de carácter essencialmente meditativo, através da sua organização interna e materiais, madeira e betão aparente, trasmite-lhe sensação de abrigo, de recolhimento, calma, silêncio. Se precisar ficar em absoluto isolamento, pode fechar o vão que abre para o terreno exterior sem que, com isso, fique privado da contemplação da natureza, assegurada pelo pátio interior. Este espaço está ainda dotado de um relógio solar através do qual o indivíduo se apercebe do suceder do tempo.

xx A segunda área do ritual é constituída por todo o terreno exterior, espaço onde o indivíduo pode fruir dos percursos pedonais e do lago, podendo assim sair da sua cela sem que, no entanto, suspenda as suas reflexões. Estas caminhadas não só não interrompem como potenciam a meditação e algum contacto com a comunidade. Durante estes passeios pode, também, tirar partido da biblioteca, local onde encontrará auxílio não só através dos livros mas, também, de consultas privadas com os orientadores. O ritual fica completo quando o indivíduo se dirige à terceira área, a capela e centro espiritual onde pode assistir a celebrações de cariz religioso ou laico. Este edifício está localizado o mais distante possível da zona dos habitáculos para que o indivíduo se dirija a ele intencionalmente: “Moisés pegou na tenda e foi colocá-la a certa distância do acampamento. Deu-lhe o nome de tenda da reunião. E todos aqueles que desejavam consultar o Senhor iam à tenda da reunião, fora do acampamento.”. No átrio de entrada encontra-se uma pedra de grandes dimensões e valor simbólico. O interior, de grande simplicidade, não faz alusão a qualquer religião e, de modo a facilitar a diversidade de eventos que aí podem ocorrer, as peças necessárias à celebração cristã podem ser retiradas. Possui, ainda, duas janelas de grandes dimensões, orientadas para o lago e zona envolvente, para incentivar a comunidade a sair e fruir da natureza: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo”.



xx À excepção da administração e refeitório, edifícios pré–existentes e intencionalmente mantidos para conferir alguma história ao local, todos os restantes volumes são concebidos em betão aparente, de relativa simplicidade e despojados de qualquer ornamento, numa tentativa de simbolizarem eles próprios silêncio.